1) Para começar a entrevista gostaria de parabenizá-los por esta próxima edição da I Love Electro, onde serão homenageados por todo o mérito que conseguiram tornando-se residente de tal festa. Por favor, falem um pouco da história de vocês, como a dupla foi formada, e como é para vocês serem residentes da I Love Electro e a ligação que têm com esta festa.
Tito - Primeiramente é uma honra para nós poder ter uma edição comemorativa de nossa residência na I Love Electro, que hoje, é considerado por muitos, um marco na cena eletrônica carioca.
Começamos a tocar juntos no início de 2006, onde tínhamos um projeto de Chillout e Dub, chamado ChillDude. Com esse projeto tocamos em algumas das principais festas do Rio de Janeiro, como por exemplo Kaballah, Euphoria, XXXPerience entre outras. Um pouco depois do início de nossa carreira, passamos a tocar minimal (uns bem lentos e psicodélicos) nos chillouts, que logo depois passaram a ser chamados de "Pista Alternativa" em muitas festas.
Nando - Nossa história com a ILE começou bem antes. Sempre tocamos nas festas da Warp nos memoráveis tempos do início do topo do Rio. Aliais, eu sou o único DJ que já tocou em todas as infinity, outra famosa festa aqui do Rio. Ai quando o Brunno começou o projeto da ILE, estávamos lá para dar começo a essa parceria. Troco muita idéia com o Brunno sobre line, novas tendências, novos Djs, e é um grande prazer fazer parte dessa festa tão querida e amada!
2) Como são feitas as seleções de músicas para que estas entrem em um set do Kodama? E como vocês percebem que a música já teve sua fase e tem que ser substituída no set?
Tito - Procuramos sempre prestar bastante atenção nos DJs que se apresentam antes da gente e como o público reage a eles. Depois dessa breve análise, montamos em nossa cabeça mais ou menos uma linha que gostaríamos de levar e ver o que o público pede naquele momento.
Sempre tem músicas que empolgam mais o público, assim como outras que o público não aceita bastante. Achamos que é essa a graça de tocar em um evento; poder captar essa aceitação do público e levar um set sempre pra cima!
Nando - A pesquisa/seleção é toda feita por mim. Sou um cara muito "fuçador" então consigo achar pérolas que ninguém tem. Acho que esse é o grande diferencial do Kodama. Tracks "exclusivas".
Quanto ao "tempo" da música, temos determinadas tracks que não saem do nosso set. Elas vão e voltam. Agora existem algumas que tocamos bastante e que outros djs também tocam que tem seu tempo bem menor. É claro que a gente não toca para outros djs sim para o Público. A partir do momento que o público não curtir mais, seja não dançando na pista, seja em fóruns ou até pessoalmente, essa track com certeza vai sair do nosso set. Mas nunca será esquecida porque música boa se toca sempre!
3) Critiquei por diversas vezes o "excesso" de Felguk nos últimos sets de vocês, justamente por saber que vocês tem técnica e qualidade suficiente para substituírem as músicas do Felipe e do Gustavo, que inquestionavelmente são de ótima qualidade, mas por terem sido tocadas massivamente, pelo menos para mim, já "deu o que tinha que dar". Como vocês vêem projetos como o Felguk que simplesmente estouram com ótimas músicas, caem na graças do público e infelizmente não criam coisas novas? Muitas vezes até por falta de tempo de produzir, por estar com a agenda lotada. Não seria o caso de dar uma parada para produzir novas músicas para não deixar lives/sets caírem na rotina e mesmice e fazer com que o público se encante de novo pelo projeto?
Tito - Felguk foi uma explosão na cena do Electro-house, não só no Rio, mas em todo o Brasil. Muitas vezes o público não aceita coisas novas e sentimos a necessidade de usar tracks que sabemos que a galera quer ouvir naquele momento.
Com relação a dar uma parada e produzir coisas novas, acho que todo produtor deve saber conciliar os trabalhos. Com certeza o Felguk sabe disso; eles já já vão estourar mais tracks por aí e com certeza a galera vai aceitar muito bem.
Nando - Não concordo com o termo "já deu o que tinha que dar". Musica boa não cansa, ela vai ficando pra trás na case mas nunca sai de lá. Para você ter uma idéia, temos na nossa case o CD de numero 2, com altas pérolas de quando começamos a tocar. As vezes olho pra pista e vejo que o publico vai curtir aquela música, então ela está ali, prontinha para agradar novamente. E assim se leva um bom set. Olhando a pista.
Quanto ao felguk, os caras não simplesmente estouram com ótimas musicas. Eles criaram uma fórmula muito boa e completamente nova (que claro, com o tempo vai se desgastar) de fazer certos timbres. O jeito de encaixar graves e sub graves deles é única. Os dois ralaram muito para chegar a esse nível e agora estão, merecidamente, colhendo os frutos. Claro que isso não significa parar de produzir. E não estão. Toquei com eles sábado passado e eles me mostraram duas músicas novas lindas, ainda não lançadas, que funcionaram muito bem na pista. Fora as parcerias que eles tem feito com monstros do Electro com Miles, Electrixx, Tim Healey (que dessa parceria saiu uma track linda, que irei tocar na ILE do dia 06-03, "The way i like it"), enfim muita coisa boa vai sair do baú deles ainda. Posso dizer sem exagero que umas 4 tracks deles vão estar sempre na minha case. Dentre elas a minha preferida "Whatever Clever", "WashEm and GiveEm Food", "Loopi Groopi" e porque não dizer a tão famosa "All Night long" com sua linha de baixo inconfundível e o "baixo negão" bem marcado.
4) Como foi para vocês tocar em um festival como o Universo Paralello? Festival este, que é visado por muitos, não só como Djs, mas principalmente pelo público, tendo em vista que este se tornou o principal festival nacional.
Nando - Cara, te contar que foi uma experiência bem legal. Foi na época que ainda estávamos tocando minimal no chill out. Ficamos com um certo receio pois o Chillas do UP é uma coisa muito tradicional. Mas rolou e a galera curtiu muito. Tocamos as 7 da manha então era legal ver as pessoas acordando, indo tomar café e parar na pista para ouvir nosso som. E fora isso abriu muita porta pra gente. Tocar num festival com o UP é um grande "comercial" para qualquer dj.
5) Analisando um pouco de quando vocês começaram a tocar até os dias de hoje, o que vocês podem destacar como as principais mudanças existentes? Qual foi a sensação de comandar uma pista pela primeira vez? E hoje em dia como se sentem?
Tito - Como tudo na vida, a prática leva a um aprimoramento, quando se há uma real dedicação a coisa. Ouvindo nossos primeiros sets, e comparando aos de hoje, notamos uma melhora em nossas mixagens e na coerência musical.
A primeira vez que tocamos Electro-house em uma festa, foi uma das primeiras, se não me engano a primeira edição, da festa Infinity, realizada no Topo do Rio. Fizemos um set de três horas e meia passeando pelas "gerações" do electro. Não tem como não dizer que foi maravilhoso, não só por estar estreiando, mas pela reação do público ao final.
Hoje em dia a sensação continua a mesma. É muito bom poder terminar um set e ver que o público gostou. O maior prazer pra um Dj é poder agradar o seu público.
Nando - Acho que a principal diferença de lá para hoje é a nossa técnica. Éramos inexperientes, tínhamos medo de ousar e fazíamos tudo como mandava a cartilha. Hoje é completamente diferente. Nunca chegamos com um roteiro pronto, ou uma musica para abrir o set. Olhamos para a pista e apertamos o play. Hoje somos bem mais seguros do que antes, e por isso as inovações surgem a cada dia. Não temos mais medo de errar e se erramos, somos mais seguros para consertar a cagada sem o público perceber. E por incrível que pareça: ainda rola um frio na barriga antes de começar a tocar. Tanto para uma pista de 10 pessoas como para uma pista de 1000 pessoas. Ambas são maravilhosas de se tocar.
6) Além do projeto Kodama, vocês mantêm carreiras paralelas, qual a importância disso para a carreira de ambos?
Tito - Sempre apreciamos outras vertentes da música eletrônica. O electro-house, com certeza é um marco na cena eletrônica, mas também sentimos vontade de tocar outros estilos que gostamos. Nando sempre foi um amante do techno, minimal e vertentes e optou pelos estilos em seu set. Eu sempre fui um fã do progressive house e sendo assim, não tinha outro estilo com que eu me identificasse mais para o meu set solo.
Nando - Pra mim vale de muito. Conhecer novos sons, adequar o que tem de melhor no Minimal Tecnho para o set de electro. Fugir um pouco dos rótulos que dão para determinadas tracks. Já tocamos muita música rotulada de Minimal em nossos sets e a pista simplesmente vir abaixo. É isso que importa. Agradar ao público.
Mas acho que o principal fator para mim foi a melhora da minha técnica. O minimal é muito peculiar na forma de mixar. As mixagens são longas (em média 2 minutos) e você tem menos margem para erro. Por ser um som mais lento, os erros aparecem mais. E isso me deu uma percepção musical muito boa!
7) O Kodama se tornou um dos principais nomes do Electro carioca e por isso já passaram pelos melhores lines de festas daqui do Rio, como por exemplo Kaballah e Euphoria, além claro de terem se tornado residentes da I Love Electro. Como vocês analisam a trajetória de vocês e o que tem de novo que possa adiantar para o público?
Tito - Sempre buscamos fazer um ótimo trabalho, que agradasse não somente ao público, mas também a nós mesmos. Com o tempo fomos conquistando um espaço na cena eletrônica e acabamos indo tocar em alguns Clubs e festas pelo Rio e São Paulo. A I Love Electro é um marco em nossa carreira; foi lá onde crescemos e sempre estaremos lá para poder agradar ao público.
Estamos iniciando um projeto novo, que ainda vai nos dar muito trabalho, mas com certeza, será um upgrade excepcional em nossa carreira. Em breve poderemos dar um preview pra vocês.
Nando - Temos muita coisa nova por ai. Usamos um hardware de efeitos nos nossos sets a algum tempo e estamos investindo em novos equipamentos. Vai vir muita novidade boa por ai, podem aguardar!
8) Qual música não pode ficar de fora das apresentações do Kodama? Entre músicas novas e antigas, quais vocês indicariam para o público escutar?
Nando - Não temos uma música certa para o nosso set e sim algumas que gostamos e que servem de base. Com elas podemos dar uma reviravolta na progressão musical do set. Isso é muito bom de fazer. Poder mudar a cara do nosso som de uma hora pra outra. Acho isso muito valido para o som de um DJ. Mudar completamente o rumo e surpreender o publico. Já vi muito set por ai que simplesmente não existe progressão musical. Sempre nas mesmas notas, sempre nos mesmos timbres ou linhas de baixo. Isso cansa. Por mais empolgante que possa parecer, uma hora cansa. Acho que nosso grande diferencial é poder tocar durante 4 horas e meia (como já tocamos em SP) e manter a pista cheia e feliz.
9) Todos sabem que existem muitos Djs Pop Stars mundo a fora, principalmente os que estão no ranking da DJ Mag. Como vocês analisam e vêem esses Djs? E como vocês encaram os famosos "Djs combo", aqueles que tocam por 3 cervejas e 1 água? Como vocês acham que isso afeta na questão da profissionalização do Dj?
Tito - Não podemos negar que há Djs excepcionais, em termos de técnica e qualidade musical espalhados pelo mundo todo. A DJ Mag se tornou um ícone da música eletrônica, mas nem sempre retrata a realidade. Digamos que ela não seja a eleição do melhor Dj e sim do mais popular.
Bem... Essa história de "Dj Combo" dá muito o que falar. Muitos acham que é moda ser Dj; estar em cima de um palco, tocando música e no final ganhar um "valeu" e um aperto de mão do público depois do set. Mas isso passa longe da profissão DJ, que requer muita dedicação, tempo, treino, e o principal, feeling. Mas a culpa não é só da pessoa que quer estar em cima do palco; muitas vezes, os próprios produtores acabam por forçar esse tipo de situação, onde nem sempre, eles estão dispostos a pagar o cachê real do artista, oferecendo em troca, a famosa "3 cervejas e uma água".
Isso, para aqueles que dedicam seu tempo a esse trabalho, é muito prejudicial, pois há produtores na cena, que optam pelos DJs mais baratos (que nem sempre são os piores; tem muito dj que cobra caro e é de péssima qualidade).
10) Vocês acham que as músicas eletrônicas com batidas mais lentas já possuem cultura? Elas têm essência? Qual seria?
Tito - Com certeza. Um exemplo conhecidíssimo do público é o famoso Anders Trentemoller, que tem produções maravilhosas, riquíssimas em qualidade musical, harmonia e etc, e são bem lentas.
Há música eletrônica para todos os gostos; desde o mais lento, até o mais rápido.
Nando - Sempre fui um cara que ouviu de tudo. Fundei minhas raízes na musica eletrônica no House, a mais de 15 anos atrás. Já ouvi e curti de tudo. De 120 BPM até 145 BPM. E hoje posso dizer: Existe vida criativa nos dois! Música é para ser entendida e tem que mexer com o coração. Por isso sempre defendo com unhas e dentes qualquer tipo de produção musical bem feita. Musica eletrônica é para ser entendida e não somente para embalar o corpo.
11) Esse Electro-House comercial que a cada dia que passa conquista mais espaço, tem a mesma essência e cultura?
Nando - É difícil rotular algo de comercial. É uma musica que tem vocal? É uma musica que é feita pensando em fazer sucesso em boates comerciais? É uma musica feita para bombar em Ibiza? É complicado isso. Mas tudo tem seu espaço! Tudo tem o seu público.
12) O que vocês vêem de diferente entre o estilo de música citado na pergunta 10 e o electro-house totalmente comerciais?
Tito - O electro-house atual é recheado de vocais conhecidos, basslines fortes e viradas marcantes. Muitas músicas passam a ser comerciais ou por serem um remix de uma track já conhecida, ou simplesmente por seus elementos caírem no gosto do público.
Nando - Cada tipo de som teu sua peculiaridade, sua forma de se expressar. É difícil rotular sons. Ou existe musica eletrônica bem produzida ou mal produzida. E quando é mal produzida, é muito fácil de perceber...
13) O que vocês acham dos Djs que criticam o lado comercial da música eletrônica?
14) Esta parte comercial não é essencial para que se consolide a música eletrônica, atraindo mais público e com o tempo este procure outras vertentes e assim não deixando a música eletrônica morrer com toda sua cultura e essência?
Nando - Não acho. Todo mundo tem seu espaço. Toda musica eletrônica tem seu valor. Ok, não teríamos os djs fodas europeus tocando aqui se não fosse a tal "modinha". Mas sempre vamos ter musica eletrônica (seja ela comercial ou não) tocando por ai. Seja nos grandes clubes, seja no underground. E cá entre nos, o underground é bem mais legal!
Agora é esperar e conferir dia 06 de março, no Cabaret Kalesa, a I Love Electro especial Kodama, com 4 horas de um set eletrizante e recheado de coisa boa da dupla residente da festa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário