quarta-feira, 15 de julho de 2009

Line Off @ Roberta Sá

A partir de hoje o blog contará com um espaço denominado LINE OFF, ou seja, um espaço onde trarei artistas que encontram-se fora de qualquer line de qualquer grande evento de música eletrônica. Não! Não estou falando de um lugar em que falarei sobre aqueles projetos e djs mais desconhecidos, mas sim sobre um lugar criado para mostrar aos amantes da música eletrônica que existe muita música de qualidade longe das batidas eletrônicas.
A princípio pretendo trazer cantoras “desconhecidas do grande público”, porém artistas com qualidades inquestionáveis que tem feito uma grande renovação na MPB e em um estilo totalmente carioca que vem renascendo com força nas vozes de novas grandes cantoras, o Samba.
Vale dizer que o que estará por aqui é um gosto pessoal, mas que aconselho bastante vocês escutarem, para “fugir” um pouco das ótimas e constantes músicas eletrônicas que estamos acostumados a escutar quase que diariamente.
Sou totalmente a favor de que uma mesma pessoa admire e goste de vários estilos musicais, não acho correto certos rótulos e preconceitos que muitos frequentadores, ou não, da “cena eletrônica” têm, muitas vezes dentro mesmo da música eletrônica, como alguns que dizem que full on é coisa de “frito”, enquanto o low bpm é música de “gente madura”, dos “reais admiradores e entendedores da e-music”. Não é difícil admirar e respeitar estilos musicais completamente diferentes entre si.
Espero que gostem!

Para estrear...

Roberta Sá!
Sem dúvidas a cantora que mais me agrada nesse ressurgimento do samba e da bossa. A renovação da MPB sem dúvidas passa pelas cordas vocais desta que tem sido considerada uma das melhores e em maior ascensão na carreira de sua geração de cantoras.

Seu trabalho mais recente é o “Que Belo Estranho Dia Para Se Ter Alegria”, mostrando que a música brasileira está mais viva do que nunca, além de bem atual e interessante através de músicas inéditas e contemporâneas, e regravações como as do samba de 1972 e o de 1951, o “Alô Fevereiro” e “Interessa?”, respectivamente, sucessos de Doris Monteiro e Linda Batista, que aparece mais contemporâneo e atual na voz dessa jovem cantora.
Para os que acham que já escutou o nome Roberta Sá em algum lugar... Ela foi uma das participantes de uma das primeiras edições do reality show, Fama da Rede Globo, programa este que ela não foi a vencedora e nem teve muito sucesso, pois era constantemente “gongada” pelos jurados do programa.

Contudo, como foi dito, com uma carreira em ascensão, Roberta Sá tornou-se uma das principais expoentes da atual música brasileira, está para ser lançado seu primeiro DVD, sendo este homônimo ao CD, que foi gravado no primeiro semestre de 2009 no Vivo Rio. E constantemente é vista fazendo participações em grandes shows e em coletâneas da música popular brasileira. Já cantou com Marcelo D2, Chico Buarque, Dudu Nobre, Frejat, MPB4, Ney Matogrosso, entre tantos outros artistas renomados. Roberta tem sido constantemente elogiada por críticos da música, no ano de 2008 concorreu ao Grammy Latino de Revelação, e este ano concorre na categoria de melhor cantara no Prêmio Multishow.

“Que belo estranho dia pra se ter alegria

Uma cantora com a musicalidade, o conhecimento e o gosto de Roberta Sá, e com sua precoce maturidade técnica, não precisa de motivo para cantar. Canta porque gosta, o que gosta (música brasileira!) e para quem gosta. Pronto.
Mas neste seu segundo CD, Que belo estranho dia pra se ter alegria, Roberta tem também, e nitidamente, outra intenção: a de mostrar que a sua (nossa) tão amada canção brasileira continua viva, atual, interessante. Roberta parece querer dar a sua visão do que seria o contemporâneo na música popular brasileira. Ambição que, evidentemente, vem espalhada nas canções, sem comprometer a fluidez desinteressada delas.
Não por acaso, pinça o título de um verso da discreta obra-prima do universo lírico e estranho do pernambucano Lula Queiroga, a bossa nova “Belo estranho dia de amanhã”. A melodia, cheia de curvas, e a harmonia cheia de dissonâncias carregam uma letra que mostra a intenção lírica do disco, e da música brasileira segundo Roberta Sá: “O argumento ficou sem assunto/Vai ter mais tempo pra gente ficar junto/Vai ter mais tempo pra enlouquecer”. Nesse dia apocalíptico em que “os políticos amanhecerão sem voz”, a canção se utiliza tão bem do vocabulário e das coisas contemporâneas _ “Notícias perderão todo controle dos fatos/Celebridades cairão no anonimato/Palavras deformadas/Fotos desfocadas vão atravessar o Atlântico/Jornais sairão em branco/E as telas planas de plasma vão se dissolver” _ que serve perfeitamente para Roberta mostrar que, sim, a música brasileira está aí e que uma jovem de vinte e poucos anos pode se expressar através dela.

Na sua redefinição do contemporâneo, Roberta regrava um velho samba como “Alô fevereiro”, feito em 1972 pelo injustamente esquecido Sidney Miller, sucesso naquele ano na voz de Doris Monteiro. No arranjo do produtor Rodrigo Campello, há praticamente um século de história da música de rua do Rio de Janeiro: do maxixe da introdução, dos contrapontos da flauta e do saxofone (ambos de Eduardo Neves) à maneira de Benedito Lacerda e Pixinguinha, ao balanço de samba carnaval que vai se transformando num funk carioca, para depois voltar ao samba. No diálogo com a tradição da música brasileira, Roberta recupera um velho sucesso de Linda Batista, “Interessa?” (de 1951), e exerce uma de suas especialidades como cantora: emprestar sua juventude a velhos sambas buliçosos, como aquele que a tornou conhecida, “A vizinha do lado”, de Dorival Caymmi.

E mostra que domina tão bem o universo tradicional da música brasileira que debuta como compositora (em parceria com Pedro Luís) justamente num tradicionalíssimo samba-choro, “Janeiros”, conduzido pelo violão de 7 cordas de Rodrigo Campello e percussão de Marçalzinho.
Contradição? Não, como vai se ver mais adiante, quando Roberta trata da mesma forma contemporânea sejam sambas moderníssimos de autores mais velhos ou sambas retrôs de autores mais jovens. Ou alguém tem dúvida de que “Cansei de esperar você”, belíssimo samba clássico de Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho (pinçado do repertório do incontornável grupo Fundo de Quintal) e o inédito samba de roda “Laranjeira”, do santamarense Roque Ferreira, não se encaixem perfeitamente a música brasileira de hoje?

Ou que “Samba de um minuto”, de Rodrigo Maranhão com insuspeitado sabor de Ataulfo Alves, e o tradicionalíssimo “ Novo amor”, do também jovem compositor carioca Edu Krieger não sejam igualmente expressão da música brasileira de hoje, das jovens noites da Lapa de hoje, apesar do jeito antigo?
Em comum, para além de serem sambas de hoje, há o frescor da voz de Roberta Sá e a busca não da modernidade pela modernidade ou da tradição pela tradição, mas do belo, da forma melhor de dizer aquelas melodias e palavras, das invenções e surpresas em cada faixa. Em “Novo amor”, por exemplo, o bandolim virtuoso e moderno de Hamilton de Holanda dá novas cores e climas ao samba, transformando-o em modinha, em valsa, até em fado.

A dupla Pedro Luís e Carlos Rennó mandou dois petardos, a explosiva list song nordestina “Fogo e gasolina” (que Roberta canta com Lenine) e o “Samba de amor e ódio”, perfeitamente integrados no espírito do disco, o de buscar a expressão mais atual para gêneros da música brasileira.
Igualmente como que transposto imediatamente das ruas (no caso as de Salvador) para nossos ouvidos está “Mais alguém”, de Moreno Veloso e Quito Ribeiro, uma marcha-rancho com insuspeitado sabor de canção tropicalista no arranjo de Rodrigo Campello _ em mais uma visão pessoal de Roberta de uma maneira contemporânea de se fazer música brasileira.

E se esse “Que belo estranho dia pra se ter alegria” começa em forma de oração, “O pedido”, bela canção meio mântrica de Junio Barreto, acaba em festa. “Girando na renda”, um irresistível samba de roda de beira de praia de Pedro Luís, tem a sua simplicidade harmônica vestida luxuosamente pelo Pife Muderno, o grupo de sopros e percussão de Carlos Malta, e diz bem das intenções do segundo CD de Roberta: “Reza quem é de rezar/Brinca aquele que é de brincadeira/Quem é de paz pode se aproximar/Hoje é festa pruma noite inteira”, diz a letra, mais cristalina impossível.
Braseiro, primeiro CD de Roberta Sá em 2004, era um cartão de visita, uma declaração de intenções de uma cantora para com a música brasileira. Que belo estranho dia pra se ter alegria, que dá continuidade à sua parceria com o selo MP,B (Universal Music) e com o produtor Rodrigo Campello, é o mergulho dessa cantora, cada vez mais amadurecida, no agitado mar de seus contemporâneos, quer nos temas, quer nas formas, quer nos parceiros. O resultado é belo e estranho como bela e estranha sempre foi a música brasileira.
Hugo Sukman
Agosto/2007 “


Algumas músicas da Roberta para serem baixadas:
http://www.4shared.com/account/dir/17494988/594ba004/sharing.html?rnd=22#

Tracklist:
01 Falsa baiana
02 Amor Blue
03 Fogo e Gasolina
04 Belo Estranho Dia de Amanhã
05 Laranjeira
06 Meu Sapato Já Furou
07 Samba de Amor e Ódio
08 Verdade - Roberta Sá e Diogo Nogueira
09 Novo Amor
10 Minha Missão - Roberta Sá e Marcelo D2
11 Afefé
12 Ame - José Maurício e Roberta Sá
13 Dia Branco
14 Essa Moça Tá Diferente
15 Mais Alguém - Palco MPB
16 Pressentimento
17 A Flor e o Espinho
18 Alô Fevereiro
19 Interessa
20 Tico-Tico no Fubá
Espero que realmente gostem deste novo espaço do Blog. Espero comentários e sugestões para melhorarmos ainda mais!

Um comentário:

Unknown disse...

ADOREI o espaço novo! tinha que começar falando da Robertinha neh, que por um acaso comecei a ouvir por osmose e nao é que eu gostei demais?!
Concerteza está entre os grandes nomes da mdp de hoje, e tem tudo pra se tornar maior ainda!
talento é o que nao falta pra ela!
Aaahh acho uma boa pedida pra futuramente falar da Céu! Aqui no Brasil ela é menos conhecida ainda que Roberta, Ana cañas, Mariana aydar, mas la fora faz um sucesso enooorrrmmmeee.
fica ai minha dica!
=*